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Curiosidades

Genética Determina se o Café Fará Bem ou Mal: Tem Justificativa Científica?

Você faz parte do grupo que bebe café e aproveita apenas as coisas boas da bebida, ou uma xícara já é o suficiente para te dar dor de estômago, dor de cabeça e mesmo alterar o seu sono?

Podemos dizer que fazemos parte de ambos, vai depender do dia e da quantidade de café ingerido. Por conta desses efeitos colaterais, muita gente acaba ficando em dúvida se o café faz mal ou não.

Na verdade, essa não é uma resposta tão simples como imaginamos. Sabemos que o recomendado é beber, no máximo, quatro xícaras de café por dia, além disso, pode fazer mal. Mas o fato da bebida ser algo prejudicial também está ligado a nossa genética.

Como os fatores genéticos explicam os efeitos do café na saúde?

Assim que finalizamos uma xícara de café, a bebida passa pelo o fígado e cerca de 95% da cafeína presente no líquido é metabolizada por esse órgão.

Esse processo é feito por uma enzima de nome bem feio: CYP1A2, componente do nosso sistema enzimático P450. E é justamente ela que pode nos dar dor de cabeça, literalmente.

O café faz o trajeto bonitinho. É ingerido, depois absorvido, vai para nossa corrente sanguínea e por fim chega ao fígado para ser metabolizada. Até aí tudo bem, mas e se a enzima que faz esse processo não estiver funcionando? A resposta para esse problema é o polimorfismo.

Ele é muito comum nessa enzima e é chamado de rs762551. Em um certo local desse gene acontece uma troca de aminoácidos e essa simples mudança que afeta nosso DNA é quem vai determinar se você vai metabolizar a cafeína rapidamente e ou de maneira mais lenta.

E é justamente aí que está o problema!

Como isso pode mudar de pessoa para pessoa?

Para explicar isso, temos que dar uma relembrada nas aulas de biologia.

Pessoas que têm um metabolismo mais rápido tem o alelo homozigoto AA, já aqueles que demoram mais para fazer esse processo tem um alelo do tipo C, podendo ser um homozigoto CC ou um heterozigoto com um alelo A e outro C.

O caso do homozigoto CC é uma situação rara, apenas 10% da população tem esse traço.

Resumindo, se você tem um alelo C, então você vai metabolizar a cafeína muito devagar, ou seja, ela vai ficar mais tempo dentro do seu organismo e, consequentemente, estendendo a sua ação natural.

Isso é ainda pior se você tem o hábito de tomar muitas xícaras por dia, prolongando ainda mais seu efeito e sua metabolização.

Mas o problema de ter um metabolismo mais lento para a cafeína não é só em dores de cabeça ou mesmo ataques de ansiedade.

Quem tem essa condição e costuma ingerir muito café ao longo do dia está mais propenso a sofrer de um ataque cardíaco não fatal ou mesmo desenvolver, já na fase adulta da vida, um quadro de hipertensão.

Por outro lado, as pessoas que possuem um alelo AA podem ficar mais tranquilas com relação a isso, pois além de metabolizarem a cafeína mais rapidamente, elas ainda estão protegidas desses possíveis problemas cardiovasculares.

Como saber qual é o meu tipo de alelo?

Infelizmente é um pouco complicado saber essa resposta. Para saber o seu tipo de alelo, ou seja, se você tem um metabolismo lento ou rápido você precisa fazer uma genotipagem, uma análise do seu DNA, que vai procurar esse polimorfismo.

Mas tem um atalho que pode te dar uma dica do seu tipo de metabolismo. Repare no seu xixi após você tomar café, mais especificamente no cheiro dele.

Se após ingerir uma xícara de café você for no banheiro pelos próximos 20 a 30 minutos e sentir o cheiro da bebida no seu xixi, é bem provável que você tenha um metabolismo rápido.

Agora, se você não sentir nada, então provavelmente o seu metabolismo é mais lento na hora de absorver a cafeína, o que quer dizer que você precisa dar uma maneirada na quantidade de café que toma diariamente.

Esse estudo da genética nos dá uma pista do porquê algumas pessoas demoram mais tempo para sentir os efeitos da cafeína. É sabido que a substância começa a agir uma hora após ser ingerindo, reduzindo a sensação de sono e de fadiga e aumentando a concentração e o foco.

Por outro lado, esses efeitos variam muito, com alguns sentindo os sinais apenas alguns minutos após ingerir a bebida, enquanto outros demoram horas para sentirem algo.

Essa descoberta não só ajuda na suplementação dos atletas, como também nos auxilia a prevenir mais conscientemente problemas cardiovasculares ou de pressão alta.

A genética também influencia na quantidade de café ingerido?

Sim! Segundo uma pesquisa feita pela Escola de Saúde de Harvard ( EUA), existem alterações genéticas que associam o consumo de café como um tipo de recompensa. Ou seja, a pessoa sente um prazer enorme em beber esse líquido, aumentando assim a quantidade de consumo.

O que quer dizer que quanto mais forte for essa sensação de recompensa na pessoa, mais café ela vai querer beber. É por isso que é comum encontrarmos pessoas que bebem muito café diariamente, chegando a consumir uma garrafa por dia.

Conclusão

Já é sabido que o café faz bem à saúde devido a suas várias características positivas, como o fato dele ser um elemento antioxidante, uma substância muito importante para a saúde do nosso corpo.

Até por isso que muita gente ingere café puro – nesse formato você consegue absorver melhor os benefícios da bebida.

Mas com essa descoberta de que algumas pessoas têm um metabolismo mais lento, é preciso ficar atento. Caso contrário, como vimos aqui, o café se torna um vilão ao invés de ser algo positivo.

Só por via das dúvidas é melhor não passarmos de três a quatro xícaras por dia, como o recomendado. Melhor prevenir do que remediar.

Referências:

https://www.nature.com/articles/mp2014107

https://www.hsph.harvard.edu/news/press-releases/genetic-variants-linked-with-coffee-drinking/

https://www.mdpi.com/2072-6643/12/8/2228



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